sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Kambun Uechi - 130 anos



Kambun Uechi nasceu em 5 de maio de 1877 em Izumi, uma aldeia pequena situada ao norte de Okinawa.e descobriu a fonte chinesa de To-De em 1897, na província meridional de Fukien. A China era então a terra da "arte do punho", como se tornaria mais tarde o Japão para o Ocidente.
Lá estudou até 1910 o estilo Pangai-Noon, surgido no Templo Central de Shaolin na China Meridional. Sob a orientação de um "sifu" monge budista chamado "Chou-Tzu Ho"(pronuncia-se Soo-Shee-Wa). Tratava-se de uma escola de Kempo chinês que se inspirava essencialmente no mimetismo de três animais: o tigre, o grou ou garça e o dragão, O método quase não utilizava o punho fechado e sim com uma só falange dobrada - a mão "garra de tigre", a palma aberta, bloqueio circular a ponta dos dedos em lança destacando o pontapé com a ponta do dedão.

Os golpes com o pé eram praticados em nível baixo, visando tornozelo, joelho e virilha, O que foi absorvido pelos discípulos de kambun Uechi. Com a morte deste mestre em 1948, a UECHI-RYU é ainda hoje um estilo muito próximo de sua origem chinesa. Surpreendente pelo poder, pelo realismo em combate, por suas aplicações, defesa pessoal e principalmente pelo aprimoramento mental.

Kambun Uechi obteve a permissão de abrir e ensinar em Nansou, na China - honra extremamente rara, pode-se deduzir, de ser concedida a um estrangeiro. Kambun Uechi foi aceito como mestre pelos chineses após Ter vencido inúmeros desafios e ensinou no Grande Continente durante 3 anos, de 1907 a 1910, até o dia em que um de seus alunos, provocado em duelo," pois eram comuns os desafios e lutas entre os praticantes de diferentes escolas", matou desastradamente o adversário. Censurado e responsabilizado por "não Ter sabido ensinar o aluno a controlar sua força", Kambun Uechi decidiu voltar a Okinawa.

A então contenção, a omissão mesmo da qual fez prova durante anos a fio dizem muito do caráter de Kambun Uechi. Sua vida em Okinawa, após a longa estadia na China transcorreu por muito tempo sem "história": casou-se, tornou-se fazendeiro estabelecido ao norte da ilha de Okinawa, recusou-se obstinadamente a ensinar sua arte apesar das insistentes solicitações e pressões das quais era vítima. Kambun Uechi havia regressado à Pátria trazendo sólida reputação que crescia na medida em que se negava a provar o que quer que fosse... nem a menor técnica, nem um único movimento, muito menos algum kata!

Certo dia, porém um de seus antigos alunos chineses - que se fizera mercador de chá - veio instalar-se em Naha e fez uma enorme publicidade em torno de si mesmo, proclamando a todos os campeões locais de Okinawa-te e a quem quisesse ouvir que "devia sua perícia ao mestre Kambun Uechi, que se recusava entretanto a deixar seu retiro".

Finalmente, foi obrigado a fazê-lo: por ocasião de uma grande festa de artes marciais de Okinawa em que todas as escolas dariam uma demonstração, Kambun Uechi acabou por aquiescer em mostrar um único kata. E foi, dizem as testemunhas, tão poderoso, tão rápido, tão perfeito em seu kata Seisan que um murmúrio de admiração fez estremecer o público presente. Itosu Yasutsune, que era então professor de Shorin-Ryu no colégio de Okinawa-te, ofereceu a Kambun Uechi um cargo nessa organização, solicitando-lhe que aceitasse, o que aconteceu.

Mas com a morte de Itosu e de outros mestres antigos de Okinawa-te, originaram-se rivalidades e pressões às quais Kambun Uechi decidiu parar novamente: em Janeiro de 1924, decidido a não mais ensinar, partiu parra Wakayama, Japão, levando consigo seu filho Kanei Uechi que nascera em 26 de Junho de 1911.

Foi em Wakayama que encontrou seu compatriota, Ryuyu Tomoyose. Consta que este último, que conhecia a perícia de Kambun Uechi no Kara-te, conseguiu fazê-lo revelar-se graças a um pequeno estratagema: certa noite em que foi visitá-lo (Kambun Uechi tinha então 50 anos), Tomoyose contou-lhe ter sofrido uma agressão, expressando profundo pesar por não ter sabido sair honrosamente da emboscada. Kambun Uechi lhe explicou então, tranqüilamente, como deveria ter se defendido.

Por mais de uma vez, em desolado Tomoyose apresentava nova situação a kambun Uechi, na qual teria se dado mal... e Uechi explicava qual técnica deveria Ter sido usada. Evidentemente que a astúcia de Tomoyose não poderia perdurar a este, então resolveu abrir-se ao amigo, implorando-lhe que lhe ensinasse enfim sua arte.

Após as recusas de costume e com a expressa condição de guardar o que iria aprender somente para si, Uechi lhe passou lições particulares, que durariam dois anos. No decorrer desse tempo, Tomoyose conseguiu convencer Uechi de que sua arte teria que sobreviver a sua morte! Kambun Uechi abriu um dojo e ensinou em Wakayama até 1947. Depois voltaria a Okinawa, onde faleceu no ano seguinte.

Tomoyose à parte, Kambun Uechi já havia passado sua arte ao filho Kanei Uechi, que começara a instruir formalmente em meados de 1927. Este, por sua vez e a pedido do pai, passara a ensinar em dojos de Osaka Hygo, Japão, por um tempo, voltando depois a Okinawa. Em 1942, curiosamente, Kanei Uechi encontra Ryukko Tomoyose (filho do discípulo de seu pai, Ryuyu Tomoyose), que o convence de abrir um dojo.

Sobre a mais alta colina de Futema, nos subúrbios da cidade de Ginowan, estabeleceu-se o primeiro dojo Uechi-Ryu em Okinawa: continua lá o centro mundial desse estilo que iria exercer particular impacto nos Estados Unidos devido à presença na ilha da força de ocupação americana, por ocasião da Segunda Guerra Mundial (George Mattson promoveria o Uechi-Ryu na América do Norte).
Ainda que pouco espetacular no que tange as técnicas de competição, o Uechi-Ryu ainda é um dos mais fortes baluartes do Kara-te tradicional, com seus katas peculiares e sua fortes aplicações, katas como o kanshiwa, o Daini-Seisan, o Cancabo, o Conchin - ao lado dos mais conhecidos, o Sanchin, o Seisan e Sanseru (de execução um pouco diferente da que se encontra em outras escolas okinawenses ou japonesas atuais).
Os dojos de Uechi-Ryu são numerosos ao redor das cidades de Naha, Urasoe, Koza e Kadena: discretos, mas motivo de orgulho para aqueles que os descobrem, que fazem parte daqueles raros dojos nos quais sopra ainda o vigoroso espírito desta bela arte, deste estilo chamado UECHI-RYU

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